Iron Junqueira
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O Nonô de Naná, 376p

ISBN: 978-85-65084-03-1
Bremen Editora Ltda.
Gênero: Romance
2a Edição – Goiânia,
2012

“O Nonô de Naná” é um romance de época publicado pela primeira vez na década de 70, pelo escritor goiâno Iron Junqueira. Com mais de cinco mil exemplares vendidos, o livro permaneceu esgotado pelas duas décadas seguintes, até que em 2012 sua segunda edição foi publicada pela Bremen.

O enredo da história se passa na Espanha do século XVIII, envolvendo um caso de amor entre Mirna Rosa, uma bela e desejada madrilena da alta sociedade, e o italiano Telmo Tolentino um violinista talentoso, cujo coração indomável deixa rastros de destruição e ódio por onde passa.

“Mas a estória de Mirna Rosa e Telmo Tolentino me surpreendeu! O romance em nada fica devendo aos grandes poemas e aos melhores romances da literatura universal.”
Celso Martins – Rio de Janeiro

“É a história de um grande amor. Um amor que existiu no coração, no corpo, na alma, em tudo.
… A forma como o autor descreve a Espanha é algo de impressionar. O jogo dos quadros, das palavras, dos personagens, enfim, a cultura e a civilização espanhola…”
Mário Ribeiro Martins – Palmas TO.

Amostra

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… Com Quem Sonha Naná

Num dos mais belos recantos às proximidades de Madri, na paz ditosa da solidão campesina, onde a natureza imprimia o poema suntuoso da vida e do esplendor, erguia-se o imponente Castelo de Pilar, todo circundado por vasto e florido bosque, que parecia reter uma primavera sem termo; o castelo era famoso pela sua antiga e arrojada arquitetura, que desafiava o tempo e a inteligência humana, e atestava o grande amor dos homens à beleza e à perfeição.

Era ali, por entre as flores e os leques da vegetação viçosa, ou correndo sobre as pedras, que se via a transparência dos rios, ou conversando com as borboletas de ouro e as aves irisadas, que vivia no deslumbramento de sua mocidade, a desejada e encantadora Mirna Rosa…

Diziam os homens que nunca ouve, em toda a Espanha, madrilena detentora de predicados tão belos e tentadores; o louro dos seus cabelos ondulados, quando tisnado pelos raios do sol, tornava-a semelhante a um anjo aureolado de luz; dos seus olhos grandes irradiava o azul da pervinca, se inundada pelas claridades do dia; do seu corpo claro e perfeito, o aroma das flores mais raras recendia; os seus lábios purpúreos, sem artifício nenhum, transmitiam a mais deliciosa das fragrâncias; se cantava sua voz imaculada e suave como a brisa, despertava anseios e encantava corações.

Não estava em recolhimento solitário e fulgurante Mirna Rosa; não fizera do recanto aprazível do Castelo dos Pilar, o claustro a que se relegam as jovens infladas de receios e preconceitos; ali se encontrava de regresso a uma de suas constantes viagens, e passeava pelo bosque com a alma embebida de sonhos e reminiscências, a planear futuras emoções junto ãqueles que, certamente, deixaria se inebriar pelos seus encantos.

Dado às lides políticas do país, Dom Arturo Pilar fazia-se acompanhar, nas suas excursões diplomáticas, pela sua graciosa filha, no vaidoso propósito de atrair sobre si as atenções dos nobres senhores de sua classe. Conseguindo controlar os interesses do Monarca Espanhol junto a gentes de outras terras, não conseguia, entretanto, impedir os abusos da filha com respeito à vida do próximo, pois a moça tanto brincava com os sentimentos alheios, que tais excessos já se tranformavam em perigosas consequências. Não foram poucos os homens que deixaram lar e família, cegos de amor pela jovem leciana de Madri. Muitos foram os moços que, depois de conhecê-la nos salões da sociedade elegante, desnortearam-se para as vias do desespero e do vício, quando se apercebera, desprezados por ela, que fazia questão de ressurgir à presença deles, acompanhada de outros cavalheiros que não passavam, simplesmente, de outras vítimas suas, naquele propósito doentio de deleitar-se com o sofrimento dos pretendentes desdenhados. Mirna fazia-se adorada por homens pelo estranho prazer de desprezá-los depois…

Em Distantes Plagas

Algum tempo depois a nobra família espanhola estava em casa de Emiliano Fernandez, patrício dos Pilar residindo em Roma: – “Terra do amor, das canções e do encantamento!”, no dizer do próprioamifo de Don Arturo.

Após alguns diasem companhia do compatriota, e acertados com ele os detalhes de seu interesse, Dom Arturo dirigiu-se então paa a residência do senhor Carlo Tolentino, com quem devia tratar de negócios particularese também travar relações diplomáticas com ele, embora esses entendimentos não fizessem parte das suas cogitações: mas uma personalidade espanhola como o ínclito visitantenão podia, de forma alguma, se esquivar das especulações políticas por parte da nobreza romana.

Não relataremos o entusiasmo com que os estrangeiros foram recebidos pelo Sr. Tolentino, uma vez que é notória a euforia dos italianos quanto aos irmãos de outras terras, que os visitam carinhosamente, atraídos principalmente pelo seuespírito jovial e fraterno. Não nos deteremos em registros sem necessidade. Nem relacionaremos a natureza  das transações entre os dois potentados, a não ser quando as circunstâncias a tanto nos obrigarem, uma vez que o roteiro da nossa narrativa é inspirado, especialmente, na vida tumultuada de Mirna – a rosa de Madri.

Uma semana faz agora que os Pilar estão hospedados na suntuosa residência dos Tolentino. Bem acomodados em espaçoso e rico aposento, os estrangeiros descansaram ao fim do dia, após o banho e esperaram pelo momento em que serão apresentados aos outros familiares do ilustre anfitrião. Recolhidos naquele apartamento principesco, os espanhóis permutam as impressões que tiveram em torno de tudo o que vivenciaram até aquele instante, na pátria maravilhosa dos italianos, que facinava a todos com o esplendor dos seus encantos, naquele romântico e decantado século XVIII.

– Por falar nisso, – lembrou Dona Marta – hoje conheceremos o filho dos Tolentino, um rapaz que, segundo depreendi das informações de Dona Clara, não passa de um irresponsável e leviano… – Mas como? Interrompeu Mirna. A própria mãe dele disse isto? Não. Ela me expôs as suas preocupações, falou-me das estranhas viagens do rapaz, das suas aventuras amorosas, do seu temperamento orgulhoso e tempestivo. Então, tirei minhas conclusões… – Marta, tu estás proibida de fazer qualquer julgamento precipitado. Disse o esposo, ao escutá-la a falar assim do filho das pessoas que, tão carinhosamente , os hospedavam ali. – Verás que não estou enganada, Arturo. E se estou a me expressar dessa maneira, é simplesmente para alertar nossa filha que, dizendo francamente, também é vaidosa, leviana, desajuizada e repleta de presunção. – Mamãe! Aborreceu-se a jovem…